Como qualquer outro Brandy, a história do conhaque começa nos vinhedos. Trata-se, fundamentalmente, de videiras da variedade Ugni Blanc instaladas sobre o terreno de calcário na região de Charente que, segundo os experts no assunto, dão à fruta (a uva) muito das particulares que serão exaltadas em seu produto final.
Uma vez colhida a fruta, parte-se para o processo de vinificação, em que é extraído um vinho ácido e de baixo teor alcoólico. No entanto, os charentinos descobriram que destilando duas vezes esse produto (ou seja, levando o vinho a ebulição e recuperando a parte da bebida com maior proporção de álcool) seria possível conseguir uma aguardente deliciosa.
Uma vez obtido o "eau de vie", o produto fica em repouso em barris de carvalho por anos e anos. Nesse período, vai adquirindo essa cor âmbar, tal qual nos identificamos com o conhaque expostos no mercado. E também é nessa fase que recebe o gosto peculiar concedido pela madeira.
Depois desse período de hibernação, o chefe da casa de conhaque dispõe da matéria-prima necessária para elaborar seus cortes (mesclas), para o que irá se transformar em aguardentes de diferentes idades. Em geral, trata-se de privilegiar a consistência de cada marca (ou seja, que as características de cada rótulo sejam mantidas através do tempo).
Dado que o conhaque não continua sua evolução na garrafa, as referências com relação à idade correspondem ao tempo que passou no barril a fração mais jovem do corte. Portanto, se foi usado 5% de aguardente de quatro anos de madeira, por mais que o resto tenha um século de barril, isso não é levado em conta na hora de rotular.
As casas mais reputadas utilizam aguardentes mais antigas, inclusive as gamas intermediárias. Para não mencionar os casos verdadeiramente excepcionais nos quais são utilizadas aguardentes de um século de hibernação, mas já estamos falando do segmento mais caro de conhaque.
As distinções de idades mais freqüentes são as seguintes:
VS (Very Special), Trois Étoiles (Três Estrelas) ou Compte 2: "el eau de vie" mais jovem, tem dois ou mais anos no barril.
VSOP (Very Special Old Pale), Reserva ou Compte 4: mínimo de quatro anos de madeira.
X.O, Napoléon, Hors d¿Age, Compte 6: mínimo de seis anos.
Muitos países souberam desenvolver bebidas de qualidade. Sem ir muito longe, a Espanha produz Brandies que podem jogar nas ligas mais competitivas. Entretanto, ninguém como os franceses souber codificar, tabular e traçar sua geografia em função da qualidade de sua produção.
Caso você não saiba, estamos falando do país que inventou a Classificação de Terrenos, as Denominações de Origem, e também a Enciclopédia, o Contrato Social e os programas laicos de ensino público normalizado à nível nacional. E, assim como Bordeaux, tem exaustivas faixas de classificação em seus vinhedos, Cognac tem suas próprias. Pois bem, a região presidida pela cidade de Cognac se divide em dois departamentos: Charente e Charente Maritime (a Oeste).
A Grande Champagne (não confunda com a Champagne de onde procede o famoso espumante) é a sub-região com solo de maior componente calcário e a que fica em primeiro lugar de acordo com sua qualidade de produção. As características de suas aguardentes vão para o lado da delicadeza. O aroma resulta em uma mistura complexa, com um domínio das nuances florais (flores de vinhedo).
A Petite Champagne é a segunda sub-região em termos de importância e é uma espécie de ferradura ao redor da Grande Champagne. Suas "eaux de vie" se destacam também pela elegância, com aromas que podem chegar a ser um pouco mais frutados.
Cabe ressaltar nesse ponto que a Apelación de Origen Controlado (AOC) Fine Champagne é a que se utiliza para os cortes que combinam aguardentes de Grande e Petite Champagne (com o mínimo de 50% da primeira).
Borderies, ao Norte de Champagne, é um pequeno oásis que produz aguardentes nas quais é possível sentir as violetas, mas, sobretudo, maduram mais rápido que as mencionadas anteriormente.
As sub-regiões dos bosques (les Bois) são como anéis concêntricos e vão perdendo a fineza e reputação à medida que os solos são menos calcários. Os Fins Bois (o primeiro desses anéis) oferecem intensidade aromática, redondeza e untuosidade. O aroma é caracterizado pelo domínio de frutas (passas de uvas) e tem uma maturação medianamente rápida. Os Bons Bois (segundo anel) oferecem um gosto de terroir que, contrariamente ao que estão habituados os habitantes do mundo do vinho, não é sempre apreciado pelos consumidores. Seu amadurecimento é rápido, o que é um detalhe que deve ser levado em conta. Por último, os Bois Ordinaires resultam em aguardentes com um marcante gosto de terroir e influência do clima oceânico (a maior parte desta sub-região está em contato direto com o mar).
Terminada a questão semi-técnica, uma pessoa não pode deixar de notar o caráter nobre, quase aristocrático, dessa bebida associada ao bom viver e a sofisticação do gosto. Houve um tempo em que os comerciantes de conhaque exploraram esta faceta criando (e abusando de) uma imaginação popular que hoje segue perseguindo esta bebida. Pense em um homem bonito, mas mal intencionado, sentado ao lado de um cachorro enorme com um copão de conhaque.
Entretanto, os descendentes desses mesmos comerciantes compreenderam que, se essa superstição de certa forma abre as portas para aumentar o valor de seus bens, não os ajudava ao máximo na hora de levar o produto a uma grande escala. E isso é justamente o que está mudando lentamente. Hoje, os principais consumidores de conhaques finos estão nos países do Oriente, onde passam de mão em mão por cifras astronômicas. Por outro lado, há uma tentativa de agregar o charme do conhaque ao Ocidente, onde muitas vezes o consumo de Single Malts e outros destilados de alta gama começam a repercutir no segmento de bebidas alcoólicas de alto preço.
No entanto, em termos semânticos, o conhaque segue relegado a um recanto próprio do discernimento. Algo análogo ao que acontece com a música de Ellington, esse pianista genial e sutil admirado pelos amantes do jazz quando estes deixam de ser jovens extravagantes.
Uma vez colhida a fruta, parte-se para o processo de vinificação, em que é extraído um vinho ácido e de baixo teor alcoólico. No entanto, os charentinos descobriram que destilando duas vezes esse produto (ou seja, levando o vinho a ebulição e recuperando a parte da bebida com maior proporção de álcool) seria possível conseguir uma aguardente deliciosa.
Uma vez obtido o "eau de vie", o produto fica em repouso em barris de carvalho por anos e anos. Nesse período, vai adquirindo essa cor âmbar, tal qual nos identificamos com o conhaque expostos no mercado. E também é nessa fase que recebe o gosto peculiar concedido pela madeira.
Depois desse período de hibernação, o chefe da casa de conhaque dispõe da matéria-prima necessária para elaborar seus cortes (mesclas), para o que irá se transformar em aguardentes de diferentes idades. Em geral, trata-se de privilegiar a consistência de cada marca (ou seja, que as características de cada rótulo sejam mantidas através do tempo).
Dado que o conhaque não continua sua evolução na garrafa, as referências com relação à idade correspondem ao tempo que passou no barril a fração mais jovem do corte. Portanto, se foi usado 5% de aguardente de quatro anos de madeira, por mais que o resto tenha um século de barril, isso não é levado em conta na hora de rotular.
As casas mais reputadas utilizam aguardentes mais antigas, inclusive as gamas intermediárias. Para não mencionar os casos verdadeiramente excepcionais nos quais são utilizadas aguardentes de um século de hibernação, mas já estamos falando do segmento mais caro de conhaque.
As distinções de idades mais freqüentes são as seguintes:
VS (Very Special), Trois Étoiles (Três Estrelas) ou Compte 2: "el eau de vie" mais jovem, tem dois ou mais anos no barril.
VSOP (Very Special Old Pale), Reserva ou Compte 4: mínimo de quatro anos de madeira.
X.O, Napoléon, Hors d¿Age, Compte 6: mínimo de seis anos.
Muitos países souberam desenvolver bebidas de qualidade. Sem ir muito longe, a Espanha produz Brandies que podem jogar nas ligas mais competitivas. Entretanto, ninguém como os franceses souber codificar, tabular e traçar sua geografia em função da qualidade de sua produção.
Caso você não saiba, estamos falando do país que inventou a Classificação de Terrenos, as Denominações de Origem, e também a Enciclopédia, o Contrato Social e os programas laicos de ensino público normalizado à nível nacional. E, assim como Bordeaux, tem exaustivas faixas de classificação em seus vinhedos, Cognac tem suas próprias. Pois bem, a região presidida pela cidade de Cognac se divide em dois departamentos: Charente e Charente Maritime (a Oeste).
A Grande Champagne (não confunda com a Champagne de onde procede o famoso espumante) é a sub-região com solo de maior componente calcário e a que fica em primeiro lugar de acordo com sua qualidade de produção. As características de suas aguardentes vão para o lado da delicadeza. O aroma resulta em uma mistura complexa, com um domínio das nuances florais (flores de vinhedo).
A Petite Champagne é a segunda sub-região em termos de importância e é uma espécie de ferradura ao redor da Grande Champagne. Suas "eaux de vie" se destacam também pela elegância, com aromas que podem chegar a ser um pouco mais frutados.
Cabe ressaltar nesse ponto que a Apelación de Origen Controlado (AOC) Fine Champagne é a que se utiliza para os cortes que combinam aguardentes de Grande e Petite Champagne (com o mínimo de 50% da primeira).
Borderies, ao Norte de Champagne, é um pequeno oásis que produz aguardentes nas quais é possível sentir as violetas, mas, sobretudo, maduram mais rápido que as mencionadas anteriormente.
As sub-regiões dos bosques (les Bois) são como anéis concêntricos e vão perdendo a fineza e reputação à medida que os solos são menos calcários. Os Fins Bois (o primeiro desses anéis) oferecem intensidade aromática, redondeza e untuosidade. O aroma é caracterizado pelo domínio de frutas (passas de uvas) e tem uma maturação medianamente rápida. Os Bons Bois (segundo anel) oferecem um gosto de terroir que, contrariamente ao que estão habituados os habitantes do mundo do vinho, não é sempre apreciado pelos consumidores. Seu amadurecimento é rápido, o que é um detalhe que deve ser levado em conta. Por último, os Bois Ordinaires resultam em aguardentes com um marcante gosto de terroir e influência do clima oceânico (a maior parte desta sub-região está em contato direto com o mar).
Terminada a questão semi-técnica, uma pessoa não pode deixar de notar o caráter nobre, quase aristocrático, dessa bebida associada ao bom viver e a sofisticação do gosto. Houve um tempo em que os comerciantes de conhaque exploraram esta faceta criando (e abusando de) uma imaginação popular que hoje segue perseguindo esta bebida. Pense em um homem bonito, mas mal intencionado, sentado ao lado de um cachorro enorme com um copão de conhaque.
Entretanto, os descendentes desses mesmos comerciantes compreenderam que, se essa superstição de certa forma abre as portas para aumentar o valor de seus bens, não os ajudava ao máximo na hora de levar o produto a uma grande escala. E isso é justamente o que está mudando lentamente. Hoje, os principais consumidores de conhaques finos estão nos países do Oriente, onde passam de mão em mão por cifras astronômicas. Por outro lado, há uma tentativa de agregar o charme do conhaque ao Ocidente, onde muitas vezes o consumo de Single Malts e outros destilados de alta gama começam a repercutir no segmento de bebidas alcoólicas de alto preço.
No entanto, em termos semânticos, o conhaque segue relegado a um recanto próprio do discernimento. Algo análogo ao que acontece com a música de Ellington, esse pianista genial e sutil admirado pelos amantes do jazz quando estes deixam de ser jovens extravagantes.
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